O inusitado da forma, dos volumes, das texturas, trabalhados cegamente com diversos materiais oleosos, todos brancos ou incolores, sobre o papel branco, sofrendo a ação do acaso, da incerteza, da liberdade, nos traços e preenchimentos, tornando-se o reflexo de uma criação mental sem as referências habituais da cor e da forma propriamente ditas. Quase cegamente, supondo equilíbrio e harmonia sobre o que não pode ser controlado pelo sentido da visão. As distorções e irregularidades desse devaneio vem à tona provocadas novamente pelo acaso, incerteza e liberdade da revelação: partes isoladas agora são vistas. A ação da aguada, em diversos tons, amarrota o papel, toma conta de lugares que não são pensados. O liquido ora repelido, ora absorvido, como num jogo vai compondo com o que estava invisível, criando outra nuance, revelando ou escondendo qualquer pretensa intenção. O trabalho, por fim, se vale da falta de controle objetivo sobre o que está sendo impresso no suporte, ora porque não enxergo, ora porque não pinto e sim deposito a cor. Aqui caberia um princípio Zen adaptado ao ato de pintar: sou eu que pinto o quadro ou é ele que me pinta, envolvendo todos os elementos que se articulam na sua execução de forma equilibrada e presente mesmo na ausência? A busca desta sutileza, deste lampejo, de como dar um tiro com arco diretamente no centro alvo com os olhos vendados, e atingir resultados plásticos e estéticos convincentes motivam minha pesquisa.